21/1/2018
Torneio e data: MSOP, 21/1/2018
Jogadores à mesa: 8
Prêmios: 3 (50, 30 e 20%)
Nível de blind e afins: a mão foi jogada no final do nível 800/1600, com ante de 200 (próxima mão já seria em 1.000/2.000 com ante de 200). A essa altura, não há mais rebuys nem add-on. Os blinds sobem a cada 15 minutos.
Fichas em jogo e afins: 245.000 fichas em jogo; média = 30.625
Meu stack inicial e afins: aproximadamente 31.000 fichas; os stacks estão aproximadamente equilibrados; ninguém está disparado; o dealer e o posição 3 têm um pouco mais que eu.
Minha mão: 99
Pote e como ele foi
estabelecido: posição 3 entrou de limp; eu, na posição 5, aumentei para 2,5 BBs (4.000); o dealer – posição
zero - (mestre Filipov) pagou, e também a posição
O flop: 3 ouros; K espadas ; 4 espadas
Ação pós-flop: posição 3 check; eu check; mestre Filipov (dealer) 7.500. Posição 3 fold.
Meu raciocínio à mesa (na prática, claro, sempre mais bagunçado, com bem mais idas e vindas, mistura de emoção com razão, e coisas do tipo, do que quando escrevemos): esses 7.500 eu tenho que pagar; só há uma carta maior que os noves na mesa e o mestre Filipov tem um estilo mais solto e agressivo e pode, muito bem, betar, em posição, contra dois oponentes, sem ter acertado o K do flop; e o pote, agora, já é quase igual a meu stack; vale, portanto, o investimento de 7.500. Mas, se eu pago esses 7.500, meu stack já vai pra um pouquinho menos de 10 BBs. Parece haver um conflito, então, entre o valor do pote, que vale o investimento, e o tamanho da bocada em minha pilha de fichas, que já não é tão grande: pelo pote, devo pagar; pelo tamanho do estrago que os 7.500 podem fazer no meu stack, devo correr. E esse conflito pode não se resolver nem no turn, nem no river: se não bater um nove no turn, e ele apostar de novo, eu posso correr, é verdade, mas ainda posso estar ganhando; já se ele checar no turn, e tiver um K, vou largar no river, caso não bata um 9 e ele bet?; acho que não: nesse caso, posso até pagar all-in... Bom, então, não tem jeito; tenho que calcular umas mãos que ele pode ter. AA, pode; mas AK e KK, não, pois, com essas mãos, ele teria feito reraise no pré-flop. Então, será que o melhor não é colocar all-in agora? Pois, se eu estou ganhando, levo o (já portentoso) pote agora mesmo!; sem dar qualquer chance de, tipo, bater um As dele. Mas e das mãos das quais estou perdendo? Será que meu all-in poderia fazê-lo foldar alguma? Sim! Mestre Filipov tem jogo suficientemente técnico para largar mesmo boas mãos, se avalia que pode estar em apuros. Das mãos que penso que ele pode ter, ele, muito provavelmente, só não foldaria AA, 33 e 44. Mas, mesmo que ele tenha um K, ele poderia foldar por causa do kicker; afinal, minha imagem é de um jogador sólido e mesmo covarde rsrsrs; como eu abri com raise no pré-flop e, agora, dei check-raise, eu poderia, muito bem, estar de AK ou mesmo AA (KK, não, pois, com KK eu só pagaria, agora)... E, com esse raciocínio, ele poderia foldar até QQ! Portanto, mesmo considerando somente as mãos das quais estou perdendo, parece haver mais mãos com as quais ele larga, em relação às que ele dá call. Parece coisa de mestre esse all-in... Epa, mas, se eu perder, adios... Bom, mas, então, vou correr agora, com esse parzão e uma só overcard no flop, e largar quase um meu stack pra trás? Mas, se eu pago os 7.500 agora, pra ver o que vai acontecer no turn, já vou pra menos de 10 BBs. É, parece que tenho pouco a perder e muito a ganhar com o all-in; vamos lá!; quem não morre duas vezes não vê o poderoso! Rsrsrsrs
O resultado: mestre Filipov tinha AK, pagou e eu fui eliminado!
Minhas impressões após a mão jogada, e antes de fazer qualquer análise mais profunda ou cálculos no computador:
- mesmo que todo o raciocínio, eventualmente, venha a ser tecnicamente referendado por cálculos e aprofundamentos, eu acabei pensando demais para dar o all-in; isso, certamente, aumentou as chances de levar call das mãos que eu perderia. Somente um all-in instantâneo poderia tirar o máximo proveito daquele raciocínio todo. Mas como fazer todo aquele raciocínio e, ainda, conseguir dar all-in instantâneo?? É por isso que esse tipo de coisa só deve ser feito pelos mestres.. Nunca tente fazer isso em casa!! Rsrsrsrs. No meu niverzinho, portanto, o melhor que eu poderia fazer era: “De fato, parece que o all-in é de mestre; mas pensei demais para concluir tudo isso, o que se configurou como um tell pra ajudá-lo a tomar a melhor decisão; melhor foldar, agora...”.
- Outra coisa que sequer avaliei foi o tamanho da pilha de fichas do mestre Filipov: ele tinha algo entre 5 e 10 BBs a mais que eu; portanto, ainda tinha algum fôlego se perdesse, o que também aumenta a chance de ele dar call com mãos das quais estou perdendo.
A análise técnica (pode incluir cálculos): ainda em progresso (e não sei se conseguirei fazê-la a contento!)
Mestre Filipov jogou em alto nível, tanto no pré quanto no pós-flop, escondendo o valor de sua mão e induzindo os oponentes a apostarem por blefe.
Sobre o meu raciocínio, sem fazer cálculos não consigo ver erro comprometedor, que pudesse dizer, com clareza, que não se deve jogar assim essa mão, nesse contexto (usando “contexto”, tanto agora quanto adiante, estou excluindo a variável da minha postura à mesa, que, penso, como já comentado acima, não foi a melhor para uma aposta por blefe, já que pensei demais). Óbvio que o fato de eu dizer que não consigo ver não significa, necessariamente, que não haja erro comprometedor; sigo aberto a encontrar ou a que me mostrem.
Há imprecisões, é verdade, mas que me parecem muito aceitáveis à mesa de jogo:
- decretei que AK e KK o mestre Felipov não poderia ter; o exato seria pensar que era pouco provável que ele tivesse.
- quando concluí que ele poderia foldar até QQ com meu all-in, caí em franca contradição com o item anterior, pois, com QQ, também era provável que o mestre Filipov fizesse reraise no pré-flop.
Para fazermos os cálculos (se é que vou conseguir), é preciso estimar a probabilidade de que o mestre Filipov, nesse contexto, faça aquela aposta pós-flop sem ter feito, pelo menos, um par de K com o flop. Por baixo, estimo que ele faria isso uma vez a cada cinco mãos nesse exato contexto; isso significa que há uma probabilidade de 20% de ele estar apostando pós-flop sem ter, pelo menos, par de K agora.
Também é preciso estimar a probabilidade de ele foldar, após meu all-in, caso ele não tenha, pelo menos, o par de K. Considerando que tenho um estilo bem sólido, e que meu stack machucaria bastante o dele, é fácil estimar que essa probabilidade é bem próxima de 100%. Para fins práticos, como avalio que estou estimando por baixo os 20% do item anterior, vou considerar que a chance de ele foldar sem, pelo menos, par de K é de 100%.
Quais mãos, que gerariam pelo menos par de K, ele poderia ter nesse contexto? (aproximação conservadora, tentarei fazer)
AA – o slow play pré-flop é perfeitamente possível e bom; digamos que, em 75% das vezes, ele fará esse slow play com o AA.
KK – o slow play pré-flop é possível também, mas já bem menos provável. Digamos que ele faria em 25% da vezes.
44 – em posição, sempre call pra tentar ver a trinca no flop – 100% das vezes
33 – idem
AK – idem KK – 25%
KQ – call pré-flop em 100% das vezes
KJ – idem
K10 – idem
K9s – idem
K9o – call em 25% das vezes
K8s – call em 1/3 das vezes
K7s – call em 1/3 das vezes
Dado que nem todas essas mãos têm a mesma probabilidade de sair, vamos a uma tabela mais elaborada:
|
Núemro de combinações possíveis dado o flop |
Probabilidade
de se ter a mão dado que só poderia ter essas |
AA |
6 |
7,407% |
KK |
3 |
3,704% |
44 |
3 |
3,704% |
33 |
3 |
3,704% |
AK |
12 |
14,815% |
KQ |
12 |
14,815% |
KJ |
12 |
14,815% |
K10 |
12 |
14,815% |
K9s |
3 |
3,704% |
K9o |
9 |
11,111% |
K8s |
3 |
3,704% |
K7s |
3 |
3,704% |
Total |
81 |
100,000% |
E, agora, vamos combinar as probabilidade dessa tabela com as que estimamos logo acima dela:
|
Probabilidade
de ter a mão dado que só poderia ter essas |
Probabilidade
do mestre Filipov jogar
como jogou, dado que tem a mão |
Probabilidade
do mestre Filipov ter a
mão pela forma que jogou, dado que só poderia ter essas |
AA |
7,407% |
75,000% |
5,556% |
KK |
3,704% |
25,000% |
0,926% |
44 |
3,704% |
100,000% |
3,704% |
33 |
3,704% |
100,000% |
3,704% |
AK |
14,815% |
25,000% |
3,704% |
KQ |
14,815% |
100,000% |
14,815% |
KJ |
14,815% |
100,000% |
14,815% |
K10 |
14,815% |
100,000% |
14,815% |
K9s |
3,704% |
100,000% |
3,704% |
K9o |
11,111% |
25,000% |
2,778% |
K8s |
3,704% |
33,333% |
1,235% |
K7s |
3,704% |
33,333% |
1,235% |
Agora, vamos estimar a probabilidade do mestre Filipov foldar cada uma dessas mãos após o meu all-in:
AA – 0%
KK – 0%
44 – 0%
33 – 0%
AK – 1%
KQ – 50%
KJ – 75%
K10 – 90%
K9s – 95%
K9o – 95%
K8s – 99%
K7s – 100%
E vamos combinar essas estimativas com os dados da tabela anterior:
|
Probabilidade
do mestre Filipov ter a mão
pela forma que jogou, dado que só poderia ter essas |
Probabilidade
do mestre Filipov foldar
a mão, após meu all-in |
Probabilidade
do mestre Filipov ter a
mão e foldá-la após meu all-in |
AA |
5,556% |
0,000% |
0,000% |
KK |
0,926% |
0,000% |
0,000% |
44 |
3,704% |
0,000% |
0,000% |
33 |
3,704% |
0,000% |
0,000% |
AK |
3,704% |
1,000% |
0,037% |
KQ |
14,815% |
50,000% |
7,407% |
KJ |
14,815% |
75,000% |
11,111% |
K10 |
14,815% |
90,000% |
13,333% |
K9s |
3,704% |
95,000% |
3,519% |
K9o |
2,778% |
95,000% |
2,639% |
K8s |
1,235% |
99,000% |
1,222% |
K7s |
1,235% |
100,000% |
1,235% |
|
|
Total |
40,503% |
Então, admitindo essas estimativas como razoáveis (e os cálculos como certos!), podemos, finalmente, calcular a probabilidade de eu ganhar o pote por fold, após o meu all-in:
Probabilidade
do mestre Filipov não ter pelo menos par de K com o
flop, dado que betou pós-flop |
Probabilidade
de ele foldar após meu all-in,
dado que não tem pelo menos par de K |
Probabilidade
de não ter pelo menos par de K e foldar após o all-in |
20% |
100% |
20,00% |
Probabilidade
do mestre Filipov ter pelo
menos par de K com o flop, dado que betou pós-flop |
Probabilidade
de ele foldar após meu all-in,
dado que tem pelo menos par de K |
Probabilidade
de ter pelo menos par de K e foldar após o all-in |
80% |
40,503% |
32,40% |
Probabilidade de eu puxar o pote
por fold após meu all-in |
52,40% |
Encontrar essa probabilidade não é fácil, mas ainda não é suficiente! Precisamos ver o que ela representa em relação à minha pilha de fichas e à minha situação no torneio. Em relação à pilha de fichas, o cálculo é mais fácil, mas menos relevante (se é que tem alguma relevância nessa altura do torneio); em relação à situação no torneio, a melhor referência que temos é o ICM (Independent Chip Model).
Comecemos pela pilha de fichas:
Se fujo após o bet do mestre Filipov, fico com 27.000 fichas.
Se boto all-in e ganho por fold, puxo 23.500 fichas (16.000 do pote pré-flop + 7.500 do bet do mestre Filipov), ficando com 50.500 fichas; como isso acontece em 52,4% das vezes, em média, fico com 26.463,512 fichas .
Se boto o all-in e tomo call, vou ganhar por volta de, pelo menos, 7% das vezes (tem que bater um 9 e não pode bater nada milagroso pra ele). Isso significa 7% de 47,6% = 3,33%. Portanto, vou quase triplicar (27.000+27.000+23.500) em 3,33% das vezes, o que me dá, em média, 2.582,169 fichas.
Se tomo call e perco, vou, naturalmente, ficar com zero fichas; porém, como a soma do que posso ganhar é maior que meus 27.000 iniciais, o valor esperado da minha ação é positivo (26.463,512 + 2.582.169 = 29.045,3818). Outra forma de falar a mesma coisa é dizer que, quando tomo call e perco, tenho – (menos) 27.000 fichas; mas 29.045.3818 – 27.000 ainda é positivo.
Esse cálculo baseado na pilha de fichas seria suficiente se fosse cash game; mas é um torneio. Como só temos 8 jogadores na mesa, é possível fazer o cálculo usando o ICM. Vamos ver se consigo.
(Se o ICM também der EV positivo para o all-in, em relação ao fold, ainda teríamos que ver se só pagar os 7.500 não seria ainda melhor que o all-in).